Mensagem
Teresa Dias Coelho «Pain» series, 1994
(oil on canvas)
- Colecção Particular -
*
*
O DOS CASTELOS
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz: Itália onde é pousado;
Este diz: Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz: Itália onde é pousado;
Este diz: Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.
*
(Fernando Pessoa)
in "Brasão", Parte I do livro «Mensagem»
in "Brasão", Parte I do livro «Mensagem»
PRECE
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem − ou desgraça ou ânsia −,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância −
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
(Fernando Pessoa)
in "Mar Português", Parte II do livro «Mensagem»
O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz −
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo em que eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou,
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa − os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
in "Mar Português", Parte II do livro «Mensagem»
O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz −
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo em que eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou,
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa − os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
*
(Fernando Pessoa) *
in "O Encoberto", Parte III do livro «Mensagem»
Etiquetas: Fernando Pessoa (1888-1935), Teresa Dias Coelho (1954-) pintora portuguesa
2 Comentários:
Cheguei aqui por pesquisa de José Fernandes Fafe que desconhecia tb ser poeta.Convido-a a visitar o me blog tambem sobre poesia e pintura.
Desejo que um dia venha ser de Pintura e Arte.Dos seus poetas publicados o unico sobre o qual trabalhei , ainda, foi Fernando Pessoa.
Voltarei para ''roubar'' poesia para o meu trabalho.
Respeitosamente\
anA
Obrigada pelo seu comentário.
Agradeço que quando "copiar" poemas do meu blogue, indique, por favor, a fonte.
Cumpts.
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial