quarta-feira, dezembro 12

como a vida sem caderneta...


Lucien Freud «Two Men» 1987-88, oil on canvas


[discurso sobre a reabilitação do real quotidiano]


como a vida sem caderneta
como a folha lisa da janela
como a cadela violeta
― ou a violenta cadela?

como estar egípcio e mudado
no salão do navio de espelhos
como nunca ter embarcado
ou só ter embarcado com velhos

como ter-te procurado tanto
que haja qualquer coisa quebrada
como percorrer uma estrada
com memórias a cada canto

como os lábios prendem o copo
como o copo prende a tua mão
como se o nosso louco amor louco
estivesse cheio de razão

e como se a vida fosse o foco
de um baço lento projector
e nós dois ainda fôssemos pouco
para uma tempestade de cor

um ao outro nos fôssemos pouco
meu amor meu amor meu amor

(Mário Cesariny)

in «Manual de Prestidigitação»

*

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