terça-feira, abril 22

O QUEIXOBIQUEIRA


Erick Swenson «Untitled» 2003
(plastic, fiberglass, steel, flocking, acrylic and oil paint)


O QUEIXOBIQUEIRA

Nem em Las Hurdes se encontram os anões que se diminuem por aqui a
**** olhos vistos.
Aqui, se tiramos um átimo os olhos do anão,
ao pô-los novamente nele
já temos que ir mais abaixo: o anão está queixobiqueira.

Embora queixobiqueira, o anão daqui tenta agigantar-se
relativamente ao
anão que está mais ao pé.
Para tanto, o queixobiqueira trepa à árvore genealógica
e põe-se lá de cima a atirar crânios de antepassados
sobre quem passa, se demora ou diminui.
E isto é só um exemplo.
O queixobiqueira usa de variadíssimos recursos nas suas tentativas de agi-
**** gantamento.

Um deles:
Levanta o mento da biqueira, cospe nela, baixa o mento
e enquanto parece dizer que não com a cabeça,
puxa com a barba dura o brilho à biqueira.
Considera-se, então, que esse queixobiqueira,
relativamente ao
queixobiqueira que, na circunstância,
não cuspiu para brilhar na biqueira,
se agigantou.
Etc., etc.

Se você, o de talhe normal, é suficientemente hábil
para pôr um queixobiqueira ao seu serviço,
nunca mais terá de abaixar-se
para apanhar as miúdas coisas
que uma pessoa deixa cair.
Mas não esqueça a regra: passear com alguma frequência o queixobiqueira
**** empoleirado no seu ombro.
Os olhos dele brilharão mais que a biqueira.

(Alexandre O’Neill) *

in «Entre a Cortina e a Vidraça», 1972

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