segunda-feira, abril 14

Discussão sobre a actividade geológica em Delfos


René Magritte «Le Tombeau des Lutteurs» 1961, óleo sobre tela
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Discussão sobre a actividade geológica em Delfos


Deve-se a um oleiro ateniense o seguinte quadro:
em câmara de tecto baixo, a minuciosa dama sentada
um ramo de loureiro numa das mãos
na outra uma taça — desta pende a água dos augúrios
na justaposição dos espaços
Por isso é um rei invencível e não um jovem assustado
quem junto à mulher consulta o que não se pode prever
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Estrabão, o geógrafo, olhou evidentemente esse vaso
pois com profusa ciência o esclarece: «O segredo do oráculo
é uma gruta oculta na terra.
Por estreita abertura uma respiração sobe.
Sentada no cimo da fenda
a pitonisa inala o vapor da profecia».
Essa era também a opinião de Plínio, Diodoro e Platão
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Décadas mais tarde, Plutarco refere
o pouco que se sabe dos aspectos:
o pneuma seria uma forma
equivalente ao perfume imprevisível
emitido como se brotasse de uma fonte
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Mas já então o mundo se tornara irregular e vago
filtro algum tornava suportável sua dor
E todos diziam: ou a essência vital se esgotou
ou, quem sabe, o vapor tenha encontrado nova passagem
E, de facto, um viajante da geração seguinte, Pausânias,
relata ter visto, no declive acima do templo
uma fonte de água chamada Kassotis
que mergulhava no subsolo e emergia novamente
mas agora no silêncio de uma câmara vazia
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(José Tolentino de Mendonça)

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